22 de ago. de 2011

Mercado de Trabalho.

Eles precisam de muito mais do que simplesmente vagas
Sem espaços e acessos adaptados, não há nem integração e nem bom rendimento

Falta humanização das empresas na aplicação da lei de cotas para trabalhadores com deficiência.
Esta é a opinião do economista Vinícius Gaspar Garcia, diretor da ONG Centro de Vida
Independente de Campinas (CVI-Campinas), que defendeu tese de doutorado no ano passado sobre pessoas com deficiência e mercado de trabalho no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Garcia afirmou que houve um crescimento de vagas oferecidas para pessoas com deficiência nos últimos cinco anos, mas ainda sobram desafios relativos à adaptação e humanização do espaço de trabalho - o que inclui superar o preconceito.
“A legislação favoreceu a alocação de pessoas com deficiência em empresas, mas poucas delas entenderam de fato a demanda dessas pessoas”, disse. “As empresas são obrigadas à contratação de deficientes para evitar a fiscalização e as punições pesadas, mas ainda não viram que não basta contratar: é preciso preparar a empresa, o ambiente, aprender a recrutar, a realizar entrevistas e principalmente, a apoiar a socialização dessas pessoas”, disse.
Também segundo ele, são muito poucas as empresas que seguem as determinações
da lei à risca. “A grande maioria sabe que a lei existe. Porém, entre o conhecimento da lei e o seu cumprimento efetivo existe uma grande distância. Por isso eu não diria que a lei é cumprida plenamente. E o sistema de fiscalização é pouco eficiente” , disse.
Na opinião de Garcia, o cumprimento da lei de cotas já começou a passos lentos, pois esteve adormecido por dez anos. “A lei foi criada em 1991 e só começou realmente a ser fiscalizada nas empresas em 2001, quando o Ministério do Trabalho e Previdência Social assumiu a responsabilidade de monitorar seu cumprimento”, disse.
E embora ele concorde que os resultados obtidos até o momento devam ser comemorados, ainda falta muito para uma verdadeira inclusão das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
“Nos últimos três anos foram preenchidas no Brasil apenas 33% das vagas exigidas pelo sistema de cotas nos setores da indústria, comércio e serviços”, informou.
Garcia destacou que das 900 mil vagas que deveriam ser ocupadas por pessoas com deficiência nas empresas do País, apenas 300 mil estão preenchidas. “Essa inclusão é
quase mínima, pois estima-se que existam no Brasil mais de 6 milhões de pessoas com deficiência aptas a trabalhar. Ou seja, nem sequer as cotas exigidas por lei não estão preenchidas”. (Gilson Rei/Da Agência Anhanguera)


Sem estrutura apropriada, não há nem como começar
Eles precisam de muito mais do que simplesmente vagas

Sem espaços e acessos adaptados, não há nem integração e nem bom rendimento E isso inclui tanto a parte física quanto a de apoio pessoal. Outra barreira para colocar a lei em prática é a falta de estrutura física nos prédios e edificações em geral, tanto no ambiente de trabalho como nas vias urbanas.
O economista Vinícius Gaspar Garcia, que defendeu tese de doutorado sobre o tema na Unicamp e é diretor da ONG Centro de Vida Independente de Campinas (CVI-Campinas), afirmou que muitas companhias e empresas não estão adaptadas para o livre acesso das pessoas com deficiência e que isso é uma das grandes barreiras para a inclusão delas no trabalho.
Além disso, Garcia disse que falta investimento para realizar adaptações nos sistemas
de transporte e de comunicação, que impossibilitam uma ação mais efetiva dos deficientes visuais e auditivos, entre outros.
Formações como cursos de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e a publicação de livros em braille são exemplos de ações que precisariam ser mais freqüentes para preparar a sociedade e o universo corporativo às pessoas com deficiência.
“Uma empresa que resolve fazer um curso de Libras para os funcionários irá tornar a adaptação da pessoa surda muito mais fácil. Assim também como restaurantes que colocam cardápios em braile”, exemplificou.
Garcia destacou que as empresas que oferecem as vagas para cumprir as cotas mínimas, em sua maioria, preferem contratar pessoas com deficiências leves e evitam quem usa cadeira de rodas ou são deficientes visuais ou auditivos.
“Além disso, os cargos oferecidos são para as funções mais simples, quase nunca para funções gerenciais e cargos mais altos e de maior responsabilidade. Há um receio e uma discriminação bastante evidente, uma descrença na competência da pessoa com deficiência.
A empresa acaba contratando uma pessoa que não atrapalhe muito e que tenha uma deficiência leve. Isso desvirtua o sentido de qualquer relação de produção e de trabalho de uma empresa”, disse.
O que deveria ser buscado, segundo ele, é a real igualdade de oportunidades - o que significa compreender que esses trabalhadores têm condições de realizar tarefas tão complexas ou delicadas como quaisquer outros.
“Um surdo não precisa de um intérprete o tempo inteiro; ele sabe ler os lábios, ou se comunica falando.
Tampouco é necessário que haja sempre um acompanhante para um cego ou um cadeirante”.
Outro ponto bastante polêmico é a legislação. Garcia disse que as pessoas com deficiência que se aposentam por invalidez ficam impedidas de exercer qualquer trabalho, pois não podem mais ser contratadas. (GR/AAN)
Fonte: reportagem publicada no jornal Correio Popular de 21/08/2011.

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